Inteligência Artificial – Uma visão distópica ofusca problemas sociais preexistentes
A inteligência artificial (IA) tem sido frequentemente objeto de especulações de ficção científica, alimentando temores de robôs superinteligentes que poderiam mudar radicalmente ou até mesmo ameaçar a humanidade. No entanto, essa visão apocalíptica desvia o foco para problemas mais imediatos e concretos que já estamos enfrentando, como desinformação, preconceitos e potencial desemprego.
A visão distópica da IA
Imagem gerada por inteligência artificial
Fonte: Terra Byte/Bing
Quando pensamos em IA, a imagem que vem à mente é frequentemente a de robôs hiperinteligentes que representam uma ameaça à humanidade. Esta visão é alimentada por décadas de ficção científica, desde as obras de Isaac Asimov até filmes icônicos como ‘2001: Uma Odisseia no Espaço’.
Esta visão não ficou restrita à fantasia. Em um artigo de 2014, o físico Stephen Hawking(https://www.terra.com.br/byte/stephen-hawking-previu-o-exterminio-da-humanidade-pela-ia-ha-quase-uma-decada,46dce5f2b534f45b81ccb1ac3a823bb1kj3id3hk.html) previu que a criação de uma IA avançada marcaria o início do fim da humanidade. Mais recentemente, uma carta aberta de especialistas na área afirmou que as empresas estão em ‘uma [corrida fora de controle](https://www.terra.com.br/byte/inteligencia-artificial-o-alerta-de-mil-especialistas-sobre-risco-para-a-humanidade,fd7b15d4ecd1fd96105bb347b087d0eet4gi7sna.html) para desenvolver e implementar mentes digitais cada vez mais poderosas que ninguém, nem mesmo seus criadores, pode entender, prever ou controlar com segurança’.
No entanto, é importante questionarmos se essa visão apocalíptica é realmente o foco que devemos dar à IA. A resposta curta é: não.
Os verdadeiros desafios da IA
Apesar dos temores de extinção humana, a IA já traz consigo alguns perigos mais imediatos, mas talvez menos chamativos. Entre eles, o aceleramento de problemas sociais como desigualdade, preconceito e desinformação.
A IA vai destruir empregos?
Um dos desafios mais próximos e tangíveis ligados à proliferação de sistemas com IA é uma nova fase de automação no mercado de trabalho.
A OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) alerta para uma ‘revolução da IA’ que poderá resultar em perdas significativas de empregos em setores altamente qualificados, como direito, medicina e finanças.
Um relatório da organização mostra que cerca de 27% dos empregos nos 38 países membros, incluindo potências econômicas como Reino Unido, Japão, Alemanha, EUA, Austrália e Canadá, estão suscetíveis ao fenômeno.
Inteligência artificial pode aumentar desigualdades no mercado de trabalho
Fonte: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Cargos protocolares, como muitos na carreira jurídica, e carreiras que se isolam do contato humano serão os mais ameaçados, segundo Marcos Fernandes, doutor e professor de economia na FGV (Fundação Getulio Vargas).
O dilema dos direitos autorais
Com a capacidade de gerar conteúdo como música, vídeos e textos, a IA pode nos proporcionar coisas inusitadas, como fotos artificiais de uma versão cyberpunk do seriado ‘The Office’ ou uma propaganda com um artista falecido, como foi o caso da recente campanha da Volkswagen estrelada por Elis Regina.
Mas, afinal, de quem são essas criações? Modelos generativos de IA, treinados com bilhões de dados produzidos por humanos, enfrentam a dificuldade de obter autorização para a utilização de todas as obras que serviram de base para seu desenvolvimento.
É nessa concepção que se apoiam os críticos da IA, que chamam esses sistemas de ‘papagaios’ — aves que só repetem, sem entender, aquilo que foi criado por outras pessoas.
Enquanto isso, a legislação de direitos autorais corre contra o tempo para abordar as nuances da criação automatizada, já que a maioria dos regimes jurídicos, incluindo o brasileiro, exige no mínimo um acordo com os autores.
IA espalhando (mais) mentiras e preconceito
O avanço da IA também trouxe consigo possibilidades alarmantes de desinformação. Máquinas treinadas podem criar notícias falsas, vídeos manipulados e discursos com impressionante realismo. O desafio é agravado pela velocidade com que esses conteúdos podem se espalhar.
A IA também carrega a responsabilidade de perpetuar vieses preconceituosos presentes nos dados utilizados para treiná-la. Nesse sentido, seu uso em buscadores da internet e algoritmos de redes sociais também preocupa.
A agência de notícias Bloomberg fez testes por três meses com a ferramenta popular de inteligência artificial generativa Stable Diffusion. Os resultados, publicados em uma reportagem neste ano, acusaram estereótipos sobre raça e gênero(https://www.terra.com.br/byte/inteligencia-artificial-reforca-estereotipos-de-raca-e-genero-diz-site,44e8a872007c3ac09048893bb415b54cyzzi1gzh.html).
De acordo com a análise, os conteúdos gerados para cada trabalho ‘bem remunerado’ – como arquiteto, médico, advogado, CEO e político – eram dominados por tons de pele mais claros, numerados de um a três na escala de pele.
Já pessoas negras nas imagens geradas pela IA tinham empregos que ganhavam menos, como zeladores, lavadores de pratos, trabalhadores de fast-food e assistentes sociais
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